“Somos
um círculo, dentro de um círculo, sem princípio e sem final. A Roda do Amor nos
dá poder, a Roda do Amor dá paz”
Canção tradicional
de Círculos de mulheres norte-americanas.
Atualmente
vivemos em uma cultura em que as conquistas do feminismo possibilitaram a
obtenção da igualdade de direitos entre gêneros. Esse fenômeno criou a
transposição de um modelo essencialmente masculino para o universo feminino. Para
compreender esse processo podemos imaginar a mulher como uma árvore grande e
frondosa que é obrigada a entrar em uma caixa muito menor que seu tamanho real,
para caber na caixa necessitará adequar-se a esse espaço e a consequência será
o corte de sua bela copa e de seus galhos, decepando parte de sua integridade e
limitando seu real poder e beleza.
O movimento da
espiritualidade feminina que resgata o aspecto sagrado ou divino da mulher, contudo,
possui orientação diversa a dos movimentos feministas das décadas de 60 e 70 do
século XX. A intenção não é política ou social, mas espiritual e natural. O
foco passa a ser o empoderamento ou fortalecimento da figura feminina e não sua
vitimização, bem como a celebração da maternidade em suas formas divina e
humana. O amor e harmonia passam a constituir a base para estabelecer a
parceria com os homens e não seu repúdio ou crucificação, e a mulher busca
realizar-se através do autoconhecimento de seu potencial, sem apropriar-se de
valores e comportamentos masculinos. A foco na positividade ajuda a eliminar
aspectos negativos, rituais e cerimonias substituem protestos e combates, e o ódio
dá lugar ao amor.
Como afirma
Mirela Faur: “Apesar de diferente, a vertente política do feminismo não é antagônica
à espiritual. Ultimamente, mulheres ativistas e politizadas começam a se abrir
aos mistérios sagrados femininos, enquanto as que estavam centradas apenas no
crescimento transpessoal e no aspecto cerimonial, canalizam cada vez mais suas
energias e sabedoria intuitiva para as transformações pessoais e o serviço
planetário(...). A importância espiritual do círculo de mulheres deve-se à sua
capacidade de unir e regenerar”
O princípio
feminino é integrador, receptivo, subconsciente, nutre e dá a vida, bem como
possui a sabedoria da manutenção e sobrevivência da espécie. Nele está contida
a ideia de abundância e prosperidade, uma vez que se relaciona com a própria
essência da natureza em que sobram recursos para sustentar a vida na Terra.
O atual
momento planetário exige o fortalecimento da união ou agregação, facilitada
pela união das mulheres em círculos visando a integração coletiva em uma
comunidade baseada em valores naturais e espirituais.
Outro aspecto
a ser observado é que a perda do poder feminino é acentuada pela ausência do
sentimento de irmandade entre mulheres. O apoio e a união são expressões
naturais da feminilidade que passaram a ser esquecidas devido a necessidade de
adequação aos modelos masculinos para vencer na profissão, geradores de desconfiança
e preconceito. Faz-se necessário reaprender a confiar e se conectar, combatendo
qualquer forma de abuso de poder (masculino ou feminino) e ousando expressar
suas qualidades inatas, maternas, nutrizes e intuitivas. Individualmente
nenhuma mulher poderá desencadear mudanças no mundo, mas quando um círculo
feminino de união e apoio é criado, há uma modificação na mentalidade
individual e coletiva.
O caminho não
consiste em solucionar os problemas atuais criando outros, antes podemos enfatizar
a receptividade e não a agressão, buscar relacionar-se e não se isolar, apoiar
em lugar de lutar, criar sem destruir, praticar a ecologia sagrada que respeita
todas as nossas relações.
Citando
novamente Mirela Faur: “Na tradição xamânica o círculo representa poder e
proteção, atuando como um caldeirão para a transmutação de energias e como um
útero sagrado nas vivências de renascimento. As experiências são poderosas
devido à energia criada e mantida, a expressão das emoções favorecida pela
segurança e os objetivos mais facilmente alcançados pela coesão afetiva e
espiritual dos participantes. Cada vez que se faz um ritual comunitário em
benefício da terra, ocorre uma mudança sútil na consciência da humanidade”.
Um círculo não
possui ângulos, não é linear. A aplicação do modelo circular para qualquer
modelo dentro da sociedade possibilita ao inconsciente acessar informações pertencentes
à natureza humana e automaticamente promove maior igualdade e união, dando
espaço para a aceitação de todos os pontos de vista como pertencentes a uma mesma
base horizontal. Da mesma forma concentra o foco em um assunto ou objetivo
comum a todos, representado pelo centro. Esse é o primeiro passo para reavivar
memórias escondidas em nosso inconsciente humano com respeito à ancestralidade
das sociedades baseadas na cultura matriarcal e entender o significado e efeito
do Círculo Sagrado Feminino.
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