segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Círculo Sagrado Feminino

                                         “Somos um círculo, dentro de um círculo, sem princípio e sem final. A Roda do Amor nos dá poder, a Roda do Amor dá paz”
                                         
                                           Canção tradicional de Círculos de mulheres norte-americanas.

Atualmente vivemos em uma cultura em que as conquistas do feminismo possibilitaram a obtenção da igualdade de direitos entre gêneros. Esse fenômeno criou a transposição de um modelo essencialmente masculino para o universo feminino. Para compreender esse processo podemos imaginar a mulher como uma árvore grande e frondosa que é obrigada a entrar em uma caixa muito menor que seu tamanho real, para caber na caixa necessitará adequar-se a esse espaço e a consequência será o corte de sua bela copa e de seus galhos, decepando parte de sua integridade e limitando seu real poder e beleza.
O movimento da espiritualidade feminina que resgata o aspecto sagrado ou divino da mulher, contudo, possui orientação diversa a dos movimentos feministas das décadas de 60 e 70 do século XX. A intenção não é política ou social, mas espiritual e natural. O foco passa a ser o empoderamento ou fortalecimento da figura feminina e não sua vitimização, bem como a celebração da maternidade em suas formas divina e humana. O amor e harmonia passam a constituir a base para estabelecer a parceria com os homens e não seu repúdio ou crucificação, e a mulher busca realizar-se através do autoconhecimento de seu potencial, sem apropriar-se de valores e comportamentos masculinos. A foco na positividade ajuda a eliminar aspectos negativos, rituais e cerimonias substituem protestos e combates, e o ódio dá lugar ao amor.
Como afirma Mirela Faur: “Apesar de diferente, a vertente política do feminismo não é antagônica à espiritual. Ultimamente, mulheres ativistas e politizadas começam a se abrir aos mistérios sagrados femininos, enquanto as que estavam centradas apenas no crescimento transpessoal e no aspecto cerimonial, canalizam cada vez mais suas energias e sabedoria intuitiva para as transformações pessoais e o serviço planetário(...). A importância espiritual do círculo de mulheres deve-se à sua capacidade de unir e regenerar”
O princípio feminino é integrador, receptivo, subconsciente, nutre e dá a vida, bem como possui a sabedoria da manutenção e sobrevivência da espécie. Nele está contida a ideia de abundância e prosperidade, uma vez que se relaciona com a própria essência da natureza em que sobram recursos para sustentar a vida na Terra.
O atual momento planetário exige o fortalecimento da união ou agregação, facilitada pela união das mulheres em círculos visando a integração coletiva em uma comunidade baseada em valores naturais e espirituais.
Outro aspecto a ser observado é que a perda do poder feminino é acentuada pela ausência do sentimento de irmandade entre mulheres. O apoio e a união são expressões naturais da feminilidade que passaram a ser esquecidas devido a necessidade de adequação aos modelos masculinos para vencer na profissão, geradores de desconfiança e preconceito. Faz-se necessário reaprender a confiar e se conectar, combatendo qualquer forma de abuso de poder (masculino ou feminino) e ousando expressar suas qualidades inatas, maternas, nutrizes e intuitivas. Individualmente nenhuma mulher poderá desencadear mudanças no mundo, mas quando um círculo feminino de união e apoio é criado, há uma modificação na mentalidade individual e coletiva.
O caminho não consiste em solucionar os problemas atuais criando outros, antes podemos enfatizar a receptividade e não a agressão, buscar relacionar-se e não se isolar, apoiar em lugar de lutar, criar sem destruir, praticar a ecologia sagrada que respeita todas as nossas relações.
Citando novamente Mirela Faur: “Na tradição xamânica o círculo representa poder e proteção, atuando como um caldeirão para a transmutação de energias e como um útero sagrado nas vivências de renascimento. As experiências são poderosas devido à energia criada e mantida, a expressão das emoções favorecida pela segurança e os objetivos mais facilmente alcançados pela coesão afetiva e espiritual dos participantes. Cada vez que se faz um ritual comunitário em benefício da terra, ocorre uma mudança sútil na consciência da humanidade”.
Um círculo não possui ângulos, não é linear. A aplicação do modelo circular para qualquer modelo dentro da sociedade possibilita ao inconsciente acessar informações pertencentes à natureza humana e automaticamente promove maior igualdade e união, dando espaço para a aceitação de todos os pontos de vista como pertencentes a uma mesma base horizontal. Da mesma forma concentra o foco em um assunto ou objetivo comum a todos, representado pelo centro. Esse é o primeiro passo para reavivar memórias escondidas em nosso inconsciente humano com respeito à ancestralidade das sociedades baseadas na cultura matriarcal e entender o significado e efeito do Círculo Sagrado Feminino.



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